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quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Novela da noite

Ontém assisti a um excerto da novela "Páginas da Vida", transmitida pela SIC.
Isso já seria motivo de notícia, sátira e chacota púbica por vários aspectos. Mas o que me move hoje a ecrever sobre a novela da noite da referida estação televisiva é um assunto sério. A Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG).

Os argumentos que defendo para a despenalização da IVG estão, há muito, dispersos por aqui, nas palavras de personalidades blogosféricas que respeito.
O que está em causa no episódio - pelo menos no de ontém - da novela que refiro é um sentido de oportunidade fantástico.

Sentei-me no sofá e deparei imediatamente com um pai de família, família que, vim-me a aperceber posteriormente, se regia pelos valores católicos mais conservadores, família patriarcal e ideologicamente datada, a dar um sermão a uma outra personagem.
O chefe de família conservador e autoritário "chama à razão", seja ela qual for, a desgraçadinha da mulher que, coitada, nasceu sem pila. Coitada, é mulher e deve-se manter nessa condição.
Como se as discriminações evidentes - a mulher, coitada, não nasceu rica, era filha da criada - não bastassem, o sermão versava um assunto, como referi atrás, oportuno. Então não é que a desgraçadinha tinha abortado clandestinamente, havia cinco anos, e ouvia agora palavras como "a vida humana é sagrada e só deus a tira. Você matou o seu filho. O seu filho nunca a vai perdoar", ou expressões dentro deste género, que já nos acostumámos a ouvir vindas de sectores mais radicais do "não" e dos representantes da ICAR.
Aquilo que aqui constitui uma novidade é a forma (muito mal) disfarçada com que se apela ao voto "não". Ao que me apercebi, o tal pai de família, com o seu farfalhudo e bonacheirão bigode, é um dos heróis da série, modelo de muitas gerações que assistem diariamente a "Páginas da Vida". Ao colocar essa personagem deliberadamente a argumentar pelo "não", usando os argumentos do "não", confundindo-se a ficção com a nossa realidade, parece-me clara a intenção dos responsáveis da SIC ao transmitirem este episódio a três dias úteis do final da campanha eleitorarl. Parece-me, definitivamente, condenável.

Pintelho

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