Um blog de todos nós. Afinal, pintelhos todos temos... Uns mais, outros menos...

domingo, março 02, 2008

O odor do Amor…



O odor do Amor…


Já vai algum tempo desde que te escrevi o último texto.
Também sei, amor, que nada nos obriga a continuar este exercício, e que a qualquer momento podemos deixar de trocar estas cartas, sem prejuízo da relação. Mas esse momento não é hoje. Porque hoje acordei com vontade de contar ao mundo, através de uma carta com um destinatário especial, um episódio que vivi recentemente, que não posso deixar morrer apenas no meu pensamento, que tenho que partilhar com alguém que entenda o que senti, o que vivi, a intensidade de todo aquele instante de horas, a magia de toda aquela eternidade que vai ficar na minha memória marcada de forma indelével, como se os sentidos tivessem a capacidade de captar fotograficamente os momentos aqui ao lado vividos. Hoje, abro a minha carta ao mundo


Aconteceu assim.

Deitei-me naquela noite de Quinta-feira. Estava exausto. Não havia dormido convenientemente durante a semana, agitada, que ainda não terminara. E aquela tarde tinha sido intensa, sentida, vivida como se fosse a última. A única.
Estava prestes a adormecer, sereno e com um sorriso nos lábios e outro no pensamento – o teu. De súbito, num repente, um estranho odor assaltou a minha calma. Era um odor físico, intenso, que eu nunca antes sentira. Um daqueles odores que… Não. Não era apenas um daqueles odores.
Era o aroma do amor. Do verdadeiro amor que há tanto tempo procurava, aparentemente sem sucesso até esse momento.
Não podia ser mais diferente do que eu o imaginara. Era intenso, ferrugento, húmido e, no entanto, não poderia ser mais viciante e excitante.
Um misto de odores corporais, sem máscara, que haviam ficado presos àqueles lençóis, na mesma tarde. As mesmas moléculas incriminatórias, acusadoras, que testemunhavam o acontecido, sem pudor, sem vergonhas e sem tabus. Que insistiam em fazer de algo íntimo um acontecimento público, perceptível a quem entrasse no quarto.
Fechei os olhos, preparado para um sono descansado.
Foi um instante apenas, um click. E viajei.
Acordei no mesmo quarto, na mesma cama. Abraçava-te. A excitação começava a tomar conta de mim. Lentamente, como convém aos apaixonados. Beijávamo-nos, intercalando a paixão com olhares de desejo e cumplicidade, conseguidos às custas de uma relação nascida de intempéries.
Recordo a forma como a tua pele queimada chamou por mim, nesse momento. Um íman que atraía a minha língua, os meus lábios, e as pontas dos meus dedos.
Mas cedo a superfície que me permitias sentir se tornou escassa, e, na minha ânsia por mais, na ressaca que a droga que és me provocava, procurei, por baixo da camisola, o teu peito. Suave mas atrevido, com uma silhueta provocadora, a chamar por um beijo, a pedir para ser acariciado com paixão. Assim o fiz. Para quê resistir?
Camisola no meio do chão, camisolas no meio do chão, e as peles, já a transpirarem sobre o édredon, a tocarem-se, a amarem-se, enquanto a saliva escorria também, pelos corpos um do outro. Pelo teu mamilo, hirto, excitado, abaixo, escorrendo até quase ao teu umbigo. Saliva de um predador esfomeado que não consegue refrear mais um apetite insaciável por uma presa única. Um tesouro do qual não estava disposto a abdicar.

Não resisti mais ao apelo de te acariciar as pernas. Sentei-te na cama, desapertei os botões que preenchiam o cano da bota, e descalcei-tas, quase de forma paternalista. Ajoelhado, com os olhos ao nível da tua anca, parecias maior, mais bela (ainda mais bela), e, mesmo sobre as calças, encostei suavemente os lábios à Marília, como oficiosamente chamamos ao teu sexo. Afinal, não e toda a gente que compra um rato de peluche e o apelida de Marília.
Desencostei os lábios e olhei para cima, para o teu olhar. Os teus braços, esticados, prendiam a minha cabeça contra as tuas pernas, num sinal de excitação crescente. Despi-te as calças, descobrindo as tuas coxas, que tanto me estimulam e excitam. O calor foi aumentando, tornando-se recíproco. Aproximava-se o banquete, e ambos precisávamos de nos saciar. O jejum já ia longo.
Pouco depois, encontrávamo-nos suados, a respirar de forma ofegante, perdidos um no outro e na excitação que nos toldava o raciocínio.
“Estou preparada.”

Acordei.

Inspiro fundo e destrinço os odores que ainda estão tão presentes, passadas todas estas horas, como se tudo tivesse acabado de acontecer, como no sonho. Sinto o teu perfume, novo, acabado de estrear. É o único odor sintético de todo este caos. No entanto, é o responsável pelo toque menos animal de todo o turbilhão. Cheiro o teu suor. Nada tem que ver com o meu. É animal, sim, é selvagem e intenso, mas só se libertou porque nos amámos, porque suámos, porque algo em nós o despertou.
Sinto também o meu suor. Não me envergonho. Vestígio do predador que sou, que procura a fêmea para satisfazer os instintos. Não o nego. Afinal, as origens de todos nós estão neste suor que emanamos, aparentemente tão embaraçoso.
Cheiro a almofada. Tem a mistura do teu shampoo e do creme facial que usas. Por lá andou a tua cabeça, meio perdida, enquanto as sensações mais animais, mais cruas, mais selvagens, nos possuiam. Não me envergonho. Todo este comportamento, aparentemente irracional, reflecte um amor maior, mais forte, mais diferente e único, que jamais ousei imaginar e que, no entanto, sinto como meu, como nosso, e abriu o meu coração em carne viva. Agora sangro abundantemente. Por ti. Para ti,
O único odor que não seria expectável era a ferrugem. Um odor húmido, não muito intenso, que vinha de mais longe. Sangue. Acendi a luz.

A cena de crime em que me deitava deliciou-me. Nunca tive fantasias – nem tenho – com este tipo de cenários. No entanto, sorri. Só a paixão foi capaz de gerar este caos. Esta confusão. E só ela se responsabilizou por deixar provas das quais nunca pudéssemos escapar.
Ao lado da almofada, pequenas manchas de sangue, gotas apenas, dispersas. Um pouco por todo o lençol. Junto ao local onde a tua pélvis havia repousado, contudo, uma mancha bastante maior emanava o odor mais intenso de todos. Logo ao lado, notei, quatro dedos ensanguentados haviam deslizado pelo branco do lençol, quase como num sinal de que a batalha havia sido feroz. Olhei as minhas unhas. Ensanguentadas. Nada em nós nos prevenira, e agora, após todas estas horas, após uma penetração que nem culminou num orgasmo, que originou uma dor aguda que te retraiu e te fez deitar no meu peito, sorria por ti. Pela nossa paixão. Pelo delírio de te ter minha, para mim. Pelo delírio de me saber teu, sem emenda, sem marcha-atrás. Pelo delírio da entrega que há muito fiz, do meu corpo, das minhas emoções, de tudo o que quiseres de mim. Sorria por nos saber tão cúmplices, tão íntimos, tão amantes e companheiros. Sou teu.

No entanto, com a face encostada à mancha maior, enquanto cheirava o sangue que te fizera derramar, ansiava. E anseio. Pela próxima oportunidade de ser o predador. De ser a caça e o caçador. Anseio pelo momento em que seremos um, unos, abraçados… Porque este amor que me inunda o peito não pode ser adiado. Porque, paixão, se fiz muito mais com muito mais ténues sentimentos envolvidos, só a fantasia de o fazer por amor, pelo nosso amor, por este amor que não encontra correspondência nas palavras, me faz tremer de ansiedade, prazer, paixão. Nunca o fiz nestas circunstâncias. Não em circunstâncias tão íntimas, tão extremas. Porque te quero. Porque tenho a certeza do quanto te quero, anseio.

Tudo porque as palavras que trocamos, que escrevemos, que dizemos, os beijos que se perdem, os carinhos e os olhares que ficam entre nós, não são suficientes, nem nunca serão, para te fazer compreender o que sinto por ti. Porque nem eu compreendo ainda. Nem compreenderei. Nem tenciono. Tenciono apenas vivê-lo. Por nós. Ser feliz.

Por todos os amores que entre nós existem.

Pintelho

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domingo, fevereiro 25, 2007

WCs

Ontem fui a Corroios.

Ontem fui assistir ao concerto de uma banda chamada Cannibal Corpse que, curiosamente, actuou numa sala sita em frente a uma funerária.
Podia aqui criticar as actuações e dizer essas coisas bonitas que se dizem dos bons concertos, aqueles adjectivos todos que todos pensam que são caros mas que todos usam indiscriminadamente. Memorável, fantástico, intenso, monumental, eh-pá-eu-é-que-sou-bom-que-sei-adjectivos-caros-como-o-caraças. Podia memo criticar a qualidade do som-que-ao-meio-da-sala-não-era-assim-tão-bom mas em-relação-ao-qual-uma-rede-no-tecto-resolveria-algo. Podia, em suma, exibir os meus exímios dotes de crítico musical.
Contudo, não o farei.
E não o farei porquê?
Não o farei porque, à hora do jantar, e com um instrumento fálico na mão - a garrafa de cerveja -, encontrei uma preciosidade.
Mas antes de continuar, e para que não restem dúvidas, a garrafa de crveja era Super Bock. Nada de confusões. Pode ser fálico, mas é de homem. Agora Sagres...
Voltando ao que interessa. Enquanto este pêlo púbico comia uma bifana "muito boa", segundo quem nos aconselhou o tasco, mas que na realidade não merecia o "muito" atrás... Aliás, nem o "boa", mas estou a dispersar. Enquanto este pêlo púbico comia um pão duro com um bife cheio de nervo e bebia uma cerveja, ouviu rumores de que naquele estabelecimento de restauração (tasco?) algo de muito suspeito se passava. Xixis e cocós.
"Ah e tal, Pintelho! Vai ao WC!"
"Mas eu não quero mijar!"
"Vai..."
E, pronto. Lá fui:


Eh, pá... Eu não sei se tenho coragem de entrar ali dentro... Se a porta em frente dizia "Stock de engorda", dava acesso a um armazém, e a julgar pela bifana, nem o material de engorda era apetecível, "Xixis e cocós"... Seria outro armazém?

Pintelho

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sábado, fevereiro 24, 2007

Depois de a morte ter saido à rua...

O meu prgrama para esta noite passa por tornar o sonho de ver cadáveres canibais em palco!
E, por isso, Pintelhas e Pintelhos, hoje nada mais escrevo. Vou para Corróios!



Pintelho

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sexta-feira, fevereiro 23, 2007

20 ano depois

A morte saiu à rua

A morte saiu à rua num dia assim
Naquele lugar sem nome para qualquer fim

Uma gota rubra sobre a calçada cai
E um rio de sangue de um peito aberto sai

O vento que dá nas canas do canavial
E a foice duma ceifeira de Portugal

E o som da bigorna como um clarim do céu
Vão dizendo em toda a parte o Pintor morreu

Teu sangue, Pintor, reclama outra morte igual
Só olho por olho e dente por dente vale

À lei assassina, à morte que te matou
Teu corpo pertence à terra que te abraçou

Aqui te afirmamos dente por dente assim
Que um dia rirá melhor quem rirá por fim

Na curva da estrada hà covas feitas no chão
E em todas florirão rosas de uma nação

Zeca Afonso


Para que Abril não se apague, e apesar de esta letra versar sobre outra morte, vale a pena homenagear Zeca Afonso. 20 anos após nos ter deixado.

Pintelho

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segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Depois de um intenso fim-de-semana musical

... Tudo aquilo em que a minha atenção concentrada se consegue manter é na dor de pescoço!

Pintelho

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sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Abordagens

É incrível como quando se muda o sexo dos intervenientes num episódio de teor sexual todo o enredo se altera profundamente. Atentem na mirabolante estória que uma Pintelha me contou, ontem.
Andava ela descansada, pela baixa que esta cidade não tem, a passear, quando é interpelada por um Homo sapiens do sexo masculino:

- A menina é muito linda e muito jeitosa sabia?
- Hm... Pois. - resposta apressada, bem como o passo da Pintelha.
- A menina tem marido?
- Tenho, tenho. É daqueles muito maus e se não desapareces dá-te uma carga de porrada...
- Olha e de sexo, gostas? Eu gosto muito... Podias experimentar comigo.
É precisamente neste momento que a Pintelha se refugia, já quase em pânico, num estabelecimento comercial que convenientemente apareceu no seu caminho. Fim da história.

Agora imaginem se fosse uma Pintelha "muito linda e muito jeitosa" a abordar um Pintelho:
- Oh!, Pintelho, tu és cá um pedaço...
- Obrigado, obrigado... Faço os possíveis.
- Namoras?
- Que interessa? Era pior se fumasse...
- Olha, e sexo, gostas?
- Hm... Preciso mesmo responder? Haverá alguém que não goste?
- Podiamos ir ali a um sítio que eu conheço... Sentias o calor do meu peito...
- E podia-te apertar bem as nalgas, acariciar as pernas, lamber-te a pele toda cima abaixo, baixo arriba, e fazer toda a maluqueira que me passar pela cabeça?
- Que nos passar pela cabeça, sim...

Era nesta altura que o mesmo estabelecimento comercial aparecia no caminho do Pintelho. Que fazer? Ignorá-lo. Segue que esta está no papo. E o pânico que abordara a Pintelha na primeira situação é substituido por uma excitação mais que natural nesta segunda. Vamos a isso.

E eis como um homem aproveita a seu favor uma situação apenas capaz de embaraçar uma mulher. Incrível. Isto dito por mim, um feminista convicto.

Há coisas fantásticas não há?

Pintelho

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quinta-feira, fevereiro 15, 2007

O que um pêlo púbico inventa

para tentar ganhar uma viagem a Veneza:

"Caminho pelos amplos corredores do centro comercial, nostálgico.
Detenho-me à entrada da perfumaria. E viajo. Hoje só quero viajar pela memória.
O meu aniversário. O momento em que me entregas o presente, o olhar ternurento que me lanças, agradecendo o meu amor. Aquele perfume que nos espreitava, cúmplice e ainda embrulhado, vinha daqui.
Recordo, na praça da alimentação, aquele almoço, no Enterro da Gata. Às escondidas, até mesmo da pessoa com quem partilháramos o quarto, a noite anterior havia sido surpreendentemente mágica e erótica. E nós, ali sentados, trocávamos olhares culpados. O segredo era só nosso.
Lembras-te daquelas tardes passadas sem rumo, gelado na mão, quando apenas uma amizade nos unia? Ambos sabíamos que queríamos mais, mas tudo era proibido, nesses tempos. Tudo menos espreitar os teus olhos verdes que me arrepiavam e que, na altura como hoje, faziam com que a vida valesse a pena.
Passo pela florista. Páro. O suave aroma leva-me até tua casa. Quando nos reconciliámos, após uma difícil discussão que já esqueci. Levei-te rosas. Sem espinhos. Àquele beijo, não. Nunca mais o esquecerei. Aquele beijo, como não muitos outros, ficará na minha memória marcado de forma indelével..
Aproximo-me da saída e logo sou assaltado por um pensamento curioso mas verdadeiro Não é preciso passar um momento especial num local para que este fique sempre ligado a uma relação. Afinal de contas, quase como no slogan, a nossa vida tem passado por aqui. Como vai continuar a passar. E sempre que por cá passearmos, novas e deliciosas recordações nos hão-de assaltar.
Obrigado pela viagem na memória, Braga Parque! Obrigado, meu Amor!"

Pode não ser o melhor texto que alguma vez escrevi. Pode nem se aproximar disso. Mas pelo menos merece ser premeado pelo esforço do autor em ver momentos românticos ligados a um Centro Comercial. Um Centro Comercial... Sim, sim. Um daqueles locais onde seres desocupados caminham sem destino e sem interesse, exibindo pneus de banha e roupa da Bershka.
Precisamente. Um desses locais.
Será que a minha imaginação pode ser premeada? E o facto de ser quase tudo ficcionado, também não merece um valor extra?

Pintelho

...Se o tema fosse Veneza daria um texto bem mais interessante, não?...

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