Mar adentro,
Mar adentro, mar adentro...
Por mais palavras que tenham já sido faladas ou escritas sobre o filme, seria para mim impossível vê-lo e nem sequer o mencionar aqui.
Se uma palavra bastasse para descrever o filme, essa palavra seria genial.
Se uma palavra bastasse para descrever a história, então essa palavra seria marcante.
Num filme impressionantemente completo, em que cada palavra proferida, cada imagem, estão no filme para servir algum propósito, em torno de um tema tão decisivo como a eutanásia, penalizada por todos aqueles ditos "pró-vida", os mesmos que, regra geral não se importam de assassinar alguém pelo simples facto de esse alguém ter assassinado.
O filme explora toda a realidade dos deficientes físicos, toda a realidade dos afectos que giram em torno do ser-se humano, todo o conceito de vida.
Creio, contudo, que a ideia a reter deste filme é que cada caso, cada ser humano, é uma história, uma biblioteca de experiências, e cabe a cada um desses casos, em conjunto com quem os ama, a decisão soberana sobre a sua vida (afinal, Rosa provou o seu amor a Ramón). Que direito têm os outros sobre a nossa liberdade?
Pessoalmente, mais que as lições referentes à eutanásia, em que a minha posição é clara desde há muito, vi neste filme um ensinamento - a viver. Devemos viver, com toda a força, disfrutando de todos os meios que possuirmos, a vida, enquanto ela é útil e pode ser vivida. Devemos vivê-la, ainda que não tenhámos os recursos que são regra geral atribuidos ao Homem, ainda que os nossos sentidos nos falhem, ou a visão, ou a audição... Aproveitar para viver, porque se um dia a má sorte nos bate à porta, e então vamos mar adentro, nesse dia, em que a vida deixar de poder ser vivida com dignidade, então cabe a cada um de nós decidir se viver sem dignidade é digno, ou morrer, afastando do nosso corpo todo o sofrimento, num acto que nunca poderá ser chamado de covarde, condenável.
Não o será. Certamente.
Pintelho
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