Descrição
Ontém pediste-me para te descrever o que senti no nosso primeiro beijo.
Tu estavas nervosa, preocupada com os pormenores, com o facto de quereres que tudo corresse bem.
Eu sabia que nem tudo correria bem, e deixei essas preocupações quando compreendi que aquela tarde seria mágica.
"Pintelho, tens nos teus braços um sonho. Adormece e não o deixes fugir. Faz do teu sonho a realidade e vive-o como se dela se tratasse".
Assim o fiz.
E descrevi-te o nosso primeiro beijo, tal e qual o senti.
Naquela tarde de Agosto, já muito badalada por cá, o calor transformou-se, à sombra das árvores, num frio nervoso, num receio tremendo de adormecer. "Que acontecerá se me deixar levar pelo sonho? E se ela não quer e todo ele acaba antes de começar?"
Tremia. Eu.
Tremias. Tu.
Incontroladamente, ambos tremíamos com toda a emoção do momento.
Os dias anteriores tinham servido de aconchegantes lençóis. Prepararam o sono. O sonho. Mas ele ainda não havia chegado.
Falávamos, para queimar o tempo. Queixavas-te da tua maldita sorte. Ser correspondida e não poder amar.
Eu, egoísta, não me esforçava para te compreender. Apenas me concentrava naquele desejo em forma de beijo, naquela força que me impelia a ti, naquela força à qual tinha de resistir.
"Estúpido!"
Ouvi as tuas lamentações, e então compreendi. Uma pessoa tão única como tu não podia sofrer assim. Como te poderia ajudar? Cumprindo o meu desejo? Sonhando?
Mirei-te de alto a baixo. À tua pele suave, admirei-a. Às tuas formas femininas, admirei-as. A excitação aumentava. Ao teu calor, admirei-o. Ao teu olhar, desprotegido naquela hora, às tuas faces delicadas, ao teu comprido cabelo selvagem, como gostas de lhe chamar, ao teu sorriso, aos teus lábios... Tudo isso admirei. Nessa hora eu era um felizardo. Tudo o que de mais belo e agradável havia no mundo estava ali. Comigo. Escondido. À espera de um delicado momento que talvez nunca se concretizasse.
Apetecia-me trincar-te a barriga, beijar-te o umbigo, acariciar-te o peito, as nádegas, as coxas, e subir à face. Agarrar-te a cabeça com ternura e beijar-te. Não o consegui. Custa, quando temos fantasmas a atormentar-nos os pensamentos, a toldar-nos o discernimento.
Então pensei nas duas semanas que havíamos passado juntos. No modo como se geraram laços de confiança e amizade entre nós. Na ternura que sentíamos naquelas viagens praia-a-praia, no teu humor sempre coerente e oportuno, na tua amável simpatia. Na tarde anterior, em que saiste quase a chorar daqueles rochedos. Havia-te contado a verdade. Era impossível os nossos desejos concretizarem-se. Não podia ser. Algo terrível servia como uma impenetrável barreira ao nosso amor.
Lembrei-me que havia voltado para trás, na bicicleta (ai, se ela pudesse falar...), para te pedir para não chorares por mim. "Homem nenhum merece as lágrimas de uma mulher!". Sorriste. Se choraste ou não, só as areias e as pedras do caminho o sabem.
Lembrei-me daquela sensação tremenda que sempre sentia quando te olhava nos olhos, quando te via sorrir. Daquela aura que me envolvia quando estava contigo.
E a força de todos aqueles pensamentos abriu uma brecha na muralha. Estavas deitada na toaha. Não te peguei na cabeça. Deixei-a estar, apoiada na terra, e encostei meus lábios aos teus. Senti o sonho a chegar.
Desde esse dia, nunca mais acordei. Nem quero acordar. Por nada.
Quanto à descrição do beijo, essa, fica para nós, entre nós. Porque sou egoista, como te disse, e não o partilho com ninguém. Apenas com a quem de direito ele pertence. A ti.
Pintelho
Tu estavas nervosa, preocupada com os pormenores, com o facto de quereres que tudo corresse bem.
Eu sabia que nem tudo correria bem, e deixei essas preocupações quando compreendi que aquela tarde seria mágica.
"Pintelho, tens nos teus braços um sonho. Adormece e não o deixes fugir. Faz do teu sonho a realidade e vive-o como se dela se tratasse".
Assim o fiz.
E descrevi-te o nosso primeiro beijo, tal e qual o senti.
Naquela tarde de Agosto, já muito badalada por cá, o calor transformou-se, à sombra das árvores, num frio nervoso, num receio tremendo de adormecer. "Que acontecerá se me deixar levar pelo sonho? E se ela não quer e todo ele acaba antes de começar?"
Tremia. Eu.
Tremias. Tu.
Incontroladamente, ambos tremíamos com toda a emoção do momento.
Os dias anteriores tinham servido de aconchegantes lençóis. Prepararam o sono. O sonho. Mas ele ainda não havia chegado.
Falávamos, para queimar o tempo. Queixavas-te da tua maldita sorte. Ser correspondida e não poder amar.
Eu, egoísta, não me esforçava para te compreender. Apenas me concentrava naquele desejo em forma de beijo, naquela força que me impelia a ti, naquela força à qual tinha de resistir.
"Estúpido!"
Ouvi as tuas lamentações, e então compreendi. Uma pessoa tão única como tu não podia sofrer assim. Como te poderia ajudar? Cumprindo o meu desejo? Sonhando?
Mirei-te de alto a baixo. À tua pele suave, admirei-a. Às tuas formas femininas, admirei-as. A excitação aumentava. Ao teu calor, admirei-o. Ao teu olhar, desprotegido naquela hora, às tuas faces delicadas, ao teu comprido cabelo selvagem, como gostas de lhe chamar, ao teu sorriso, aos teus lábios... Tudo isso admirei. Nessa hora eu era um felizardo. Tudo o que de mais belo e agradável havia no mundo estava ali. Comigo. Escondido. À espera de um delicado momento que talvez nunca se concretizasse.
Apetecia-me trincar-te a barriga, beijar-te o umbigo, acariciar-te o peito, as nádegas, as coxas, e subir à face. Agarrar-te a cabeça com ternura e beijar-te. Não o consegui. Custa, quando temos fantasmas a atormentar-nos os pensamentos, a toldar-nos o discernimento.
Então pensei nas duas semanas que havíamos passado juntos. No modo como se geraram laços de confiança e amizade entre nós. Na ternura que sentíamos naquelas viagens praia-a-praia, no teu humor sempre coerente e oportuno, na tua amável simpatia. Na tarde anterior, em que saiste quase a chorar daqueles rochedos. Havia-te contado a verdade. Era impossível os nossos desejos concretizarem-se. Não podia ser. Algo terrível servia como uma impenetrável barreira ao nosso amor.
Lembrei-me que havia voltado para trás, na bicicleta (ai, se ela pudesse falar...), para te pedir para não chorares por mim. "Homem nenhum merece as lágrimas de uma mulher!". Sorriste. Se choraste ou não, só as areias e as pedras do caminho o sabem.
Lembrei-me daquela sensação tremenda que sempre sentia quando te olhava nos olhos, quando te via sorrir. Daquela aura que me envolvia quando estava contigo.
E a força de todos aqueles pensamentos abriu uma brecha na muralha. Estavas deitada na toaha. Não te peguei na cabeça. Deixei-a estar, apoiada na terra, e encostei meus lábios aos teus. Senti o sonho a chegar.
Desde esse dia, nunca mais acordei. Nem quero acordar. Por nada.
Quanto à descrição do beijo, essa, fica para nós, entre nós. Porque sou egoista, como te disse, e não o partilho com ninguém. Apenas com a quem de direito ele pertence. A ti.
Pintelho
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