Wundt
Foi um dos mais produtivos homens na História da Psicologia.
Fundou o Voluntarismo, usualmente conhecida como a primeira escola de Psicologia, fundou também o primeiro laboratório de Psicologia experimental (cuja data de inauguração foi adoptada como a data da assunção da Psicologia enquanto ciência), orientou mais de cento e oitenta alunos de Doutoramento, escreveu mais de cinquenta e sete mil páginas, desenvolveu enormemente as teorias dos elementos básicos da consciência (como ele os apelidava), e é injustamente alvo de chacota e mil e uma críticas de professores do Ensino Secundário, que não conseguem ver além do presente, para o passado, e compreender que há cento e vinte e cinco anos atrás Wundt foi um herói e um verdadeiro pioneiro. Para eles, parece fácil julgar o "burro" pelos erros cometidos. Mas esquecem-se que ele não era burro. Era ignorante. Como nós, todos nós, sem excepção, somos. E a vantagem que temos é tão injusta que para o criticar nos devemos tentar colocar atrás no tempo. Juntos a ele.
Este parágafo não é uma defesa de Wundt. É uma introdução.
Ao processo emocional que em Portugal apelidamos de saudade.
Foi a estudar Wundt que, mais uma vez, como sempre que estudo vidas de grandes pessoas, me apareceste. Não fosse eu ateu e começava a suspeitar dos teus poderes divinos de aparecer às pessoas.
Olhaste-me nos olhos, com o teu cabelo ondulado a ornar o teu sorriso leve e malicioso. Essa malícia só podia provir de uma recordação da sessão de cinema de ontém.
Ontém esqueceste-te das regras e dos perigos, para me amares e me transportares a uma outra dimensão, mais estimulante e erótica. Foste parva. Perdemos o dinheiro dos bilhetes... Mas ganhámos muito mais em cumplicidade e prazer.
Assim creio.
Encostaste então os teus lábios ao meu ouvido e sussrraste aquele substantivo (tão pouco) romântico pelo qual me costumas chamar nos momentos mais nossos. Mais só nossos.
Então, sem qualquer tipo de concentração no exterior da cama onde estudava, deixei-me seduzir por todas as recordações que esse substantivo trouxe. Desde o dia em que nos falámos como "companheiros" de férias pela primeira vez. Até ontém, até àquela cadeira da fila traseira do cinema, mesmo por baixo do projector, sem qualquer braço plástico ou de madeira que nos incomodasse o momento.
Pelo meio recordei-me dos momentos em que nos amámos mutuamente, em que o mundo esteve nos nossos órgãos dos sentidos, só para nós, por nós, ao nosso serviço.
Esses momentos que passámos, em que nos amámos, fazem por si só valer a nossa relação, fique ela onde e quando ficar. Mas que não fique para breve.
Por mim, prefiro que o nosso substantivo cúmplice, o que nos acompanha o amor, se mantenha e perdure no tempo e no espaço. Nos nossos afectos também, se não for pedir demais. Mas não é já pedir demais quando peço o teu amor?
Entretanto voltaste a mim. Olhei-te. Desde os cabelos até aos pés. A cobrir-te o corpo tinhas um pouco de nada. Apenas a pele. A tua pele que molda, emoldura e cobre tantos momentos da minha vida. E pude apreciar-te com aquilo que consigo reconstruir de ti. Todas as tuas células externas, uma a uma, nas posições correctas. Decorei o mapa, sem dúvida. E conheço também os locais-chave da minha excitação. Nesses locais a minha visita prolongou-se além do que seria normal.
Voltei ao meu mundo. À minha cama, onde já tantas vezes me havias chamado pelo nome que hoje despertou em mim as recordações. Mas já não estavas lá comigo.
À minha volta, apenas os livros e as fotocópias sobre Wundt, a caneta e o bloco de apontamentos.
Levantei-me e peguei no telemóvel. Enviei-te uma mensagem insultando-te e culpando-te pela aparição. Culpando-te pela falta de concentração que me assombra hoje. Mas... Será que realmente te devia culpar? Afinal de contas, não me proporcionaste tu uma viagem tão refrescante e prazerosa, no meio de uma sessão de estudo?
Por isso terminei a mensagem da forma como termino este post, que escrevo após acordar da tua visita metafísica:
Amo-te Pintelha
Pintelho
Fundou o Voluntarismo, usualmente conhecida como a primeira escola de Psicologia, fundou também o primeiro laboratório de Psicologia experimental (cuja data de inauguração foi adoptada como a data da assunção da Psicologia enquanto ciência), orientou mais de cento e oitenta alunos de Doutoramento, escreveu mais de cinquenta e sete mil páginas, desenvolveu enormemente as teorias dos elementos básicos da consciência (como ele os apelidava), e é injustamente alvo de chacota e mil e uma críticas de professores do Ensino Secundário, que não conseguem ver além do presente, para o passado, e compreender que há cento e vinte e cinco anos atrás Wundt foi um herói e um verdadeiro pioneiro. Para eles, parece fácil julgar o "burro" pelos erros cometidos. Mas esquecem-se que ele não era burro. Era ignorante. Como nós, todos nós, sem excepção, somos. E a vantagem que temos é tão injusta que para o criticar nos devemos tentar colocar atrás no tempo. Juntos a ele.
Este parágafo não é uma defesa de Wundt. É uma introdução.
Ao processo emocional que em Portugal apelidamos de saudade.
Foi a estudar Wundt que, mais uma vez, como sempre que estudo vidas de grandes pessoas, me apareceste. Não fosse eu ateu e começava a suspeitar dos teus poderes divinos de aparecer às pessoas.
Olhaste-me nos olhos, com o teu cabelo ondulado a ornar o teu sorriso leve e malicioso. Essa malícia só podia provir de uma recordação da sessão de cinema de ontém.
Ontém esqueceste-te das regras e dos perigos, para me amares e me transportares a uma outra dimensão, mais estimulante e erótica. Foste parva. Perdemos o dinheiro dos bilhetes... Mas ganhámos muito mais em cumplicidade e prazer.
Assim creio.
Encostaste então os teus lábios ao meu ouvido e sussrraste aquele substantivo (tão pouco) romântico pelo qual me costumas chamar nos momentos mais nossos. Mais só nossos.
Então, sem qualquer tipo de concentração no exterior da cama onde estudava, deixei-me seduzir por todas as recordações que esse substantivo trouxe. Desde o dia em que nos falámos como "companheiros" de férias pela primeira vez. Até ontém, até àquela cadeira da fila traseira do cinema, mesmo por baixo do projector, sem qualquer braço plástico ou de madeira que nos incomodasse o momento.
Pelo meio recordei-me dos momentos em que nos amámos mutuamente, em que o mundo esteve nos nossos órgãos dos sentidos, só para nós, por nós, ao nosso serviço.
Esses momentos que passámos, em que nos amámos, fazem por si só valer a nossa relação, fique ela onde e quando ficar. Mas que não fique para breve.
Por mim, prefiro que o nosso substantivo cúmplice, o que nos acompanha o amor, se mantenha e perdure no tempo e no espaço. Nos nossos afectos também, se não for pedir demais. Mas não é já pedir demais quando peço o teu amor?
Entretanto voltaste a mim. Olhei-te. Desde os cabelos até aos pés. A cobrir-te o corpo tinhas um pouco de nada. Apenas a pele. A tua pele que molda, emoldura e cobre tantos momentos da minha vida. E pude apreciar-te com aquilo que consigo reconstruir de ti. Todas as tuas células externas, uma a uma, nas posições correctas. Decorei o mapa, sem dúvida. E conheço também os locais-chave da minha excitação. Nesses locais a minha visita prolongou-se além do que seria normal.
Voltei ao meu mundo. À minha cama, onde já tantas vezes me havias chamado pelo nome que hoje despertou em mim as recordações. Mas já não estavas lá comigo.
À minha volta, apenas os livros e as fotocópias sobre Wundt, a caneta e o bloco de apontamentos.
Levantei-me e peguei no telemóvel. Enviei-te uma mensagem insultando-te e culpando-te pela aparição. Culpando-te pela falta de concentração que me assombra hoje. Mas... Será que realmente te devia culpar? Afinal de contas, não me proporcionaste tu uma viagem tão refrescante e prazerosa, no meio de uma sessão de estudo?
Por isso terminei a mensagem da forma como termino este post, que escrevo após acordar da tua visita metafísica:
Amo-te Pintelha
Pintelho
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