Um blog de todos nós. Afinal, pintelhos todos temos... Uns mais, outros menos...

sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Pombos

Não sei se os leitores deste blogue apreciam a família dos Columbídeos ou não. Também não sei se apreciam os exemplares da espécie à qual pertencem os pombos vulgares das cidades, mas é mesmo sobre essa espécie e sua evolução ao longo dos últimos anos que este post versa.
Deambulando pela cidade deparei-me, em tempos, com certas manchas de Columbídeos ligeiramente mais gorduchos que o habitual. Na altura, essas manchas, pareceu-me, deviam-se a diferenças alimentares. Talvez por estarem perto de centros de alimentação, ou talvez porque as pessoas lhes davam mais comida. Sabia lá.
O certo é que há dois dias fui almoçar a um daqueles pseudo-restaurantes perfeitamente desaconselháveis que dão pelo nome de McDonalds (como se eles ainda precisassem de pulicidade), restaurantes em que somos expostos, além de a cheiros nauseabundos e a gelados deliciosos (esta parte sei que devia omitir), a perigosíssimos agentes mutagénicos que a multinacional incorpora na comida, como elemento viciante. tentam introduzir mutações no nosso genoma que façam de nós McDonaldsdependentes.
Os agentes mutagénicos do dito pseudo-restaurante não são perigosos, se consumidos em doses fracas a moderadas, para os humanos, pelo que os primeiros mutantes se têm começado a ver em grandes cidades e, sobretudo, nos EUA. O primeiro aspecto físico da incorporação de novos genes é a obesidade crónica.
Mas sobre os Homo sapiens mutantes ainda não há muito a dizer. Os efeitos não se notam em termos práticos.
Mas foi enquanto dava uma dentada naquela carne de minhoca e olhava para o lado que percebi.
Os pombos. Os famosos pombos que mancham, em certos locais, a cidade de onde sou natural, a cidade que habito, a tal que segundo Jerónimo de Sousa, nem com a ajuda da Senhora do Sameiro elege este ano uma maioria de deputados de direita, são assim demasiado gordos devido aos agentes da comida Mcdonaldiana. É que se os agentes não são demasiado perigosos para nós, para esses animais bastante mais pequenos as coisas complicam-se.
Os columbídeos do McDonalds têm evoluído em pequenas populações, ocupantes de igualmente pequenos nichos e habitats juntos aos ditos pseudo-restaurantes, e acabaram por formar, segundo estudos biológicos, uma subespécie denominada Columba livia mcdonaldis, caracterizada por uma massa 30% superior à dos pombos comuns, em que o excesso de massa é composto sobretudo por tecido adiposo, e hábitos alimentares diferenciados dos dos restantes membros da mesma família. Estes animais apenas se alimentam de batata frita (sendo que se não estiver encharcada em óleo usado mil vezes, não será consumida), migalhas de pão (que tem que conter um teor elevado de polímeros artificiais, o chamado pão-de-plástico), e carne (de minhoca, previamente picada e agregada com uma mistela intragável), pelo que se crê que estes bichos se especializaram na detecção da saborosíssima comida da cadeia de restaurantes visada neste post.
Pensa-se ainda que estes animais tendem a evoluir para uma nova espécie, pois com o aumento da massa ainda em crescimento o mais provável será que tais aberrações se isolem reprodutivamente dos restantes pombos-bravos.
O que eu descobri de interessante com este estudo é que os pombos mutantes são também uma estratégia de marketing da empresa, baseada em teorias reflexológicas e comportamentais. É que os pombos não estão lá ao calhas. Foram gerados a partir dos tais mutagénicos com o intuito único de condicionarem o possível cliente.
Eu explico-me:
Os compradores do McDomalds são estimulados continuamente, desde infantes, com pombos e restaurantes da cadeia, associados. Sem darem por ela, começam, qual cãozinho pavloviano, a salivar, a associar o estímulo promovido pelos pombos gordos ao estímulo gerador de recompensa, "restaurante McDonalds".
Na vida adulta, condicionados, tal como 1 + 1 = 2, mal avistam um pombo descomunal, os clientes sentem apetite. Mas um apetite especial. Apetite por aquelas "coisas" a que a empresa insiste em denominar hambúrgueres. Não resistem. E assim se gera clientela.

Deste estudo, nada tenho contra os pombos mutantes. Apenas gostaria de lançar a discussão. Até que ponto é legítima esta estratégia da dita multinacional? E até que ponto devemos e podemos intervir no sentido de travar este marketing que esquece e viola os direitos dos animais? É verdade... Um assunto que passou ao lado dos políticos nesta campanha e que afecta milhares de pombos em todo o país. Um assunto que nos afecta a todos nós, como seres condicionáveis. Um assunto que não poderia nem deveria ter ficado de parte nesta campanha. Façámos nós a discussão, dinamizando a caixa de comentários abaixo.

Pintelho

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