Um blog de todos nós. Afinal, pintelhos todos temos... Uns mais, outros menos...

segunda-feira, abril 04, 2005

Eu bem sei que com dois destes seguidos este blogue concorre para a categoria "Blogue lamechas nacional", mas...

Hoje acordei tarde. Pelas nove e meia, mais coisa menos coisa. Hora de me estar a preparar para trilhar com as sapatilhas gastas a distância, não muito curta, que me separa do meu posto de trabalho. Demasiado trabalho.
Mas isso pouco importa.
Levantei-me num rompante, tomei o pequeno-almoço, rico em cafeína (alimentação saudável, pois...), para acordar, e corri a trocar de roupa, no meu quarto.
Tirei a camisola, passei desodorizante pela Pntelheira (salvo seja), e olhei-me ao espelho. Aliás, olhei para o meu peito magro reflectido no espelho. Em cada um, sobre a pele branca que me cobre as entranhas, uma mancha negra, rodeada por marcas de uns dentes de felina, de uma felina que teima em me querer morder. No peito, no abdómen, nas pernas, nos lábios...
Lembrei-me então da última vez que estivemos juntos, entregues à nssa veia animal. Ao nosso id freudiano. Sem preocupações, sem pudor, sem medo nem vergonha do que se passasse naquela selva de afectos.
Senti toda a violência da carne, e por ela fui violento, amorosa e carinhosamente violento. Por ti, para ti, para te ter.
Como paga por uma agressão, cravaste teus dentes um pouco por todo o meu corpo.
Retribuí. Castiguei-te. Com todas as armas que possuo capazes de te fazerem gritar. E gritaste. Uma, duas, várias vezes. Sempre que a violência do amor estimulava o teu grito.
Por vingança, foste violenta comigo. Não da mesma forma que eu. Foste femininamente violenta. Com as tuas unhas pintadas de escuro, com as tuas perigosas insinuações, mantendo o fruto (os vários frutos) do meu desejo sempre próximo de mim, inatingível.
E aí entrou a tua boca. Com a tua língua exploraste, sem medo do sabor salgado do meu corpo, todos os espaços que te apeteceram. Com os teus dentes cortantes, cravaste teu corpo no meu, unos. Foi aí que gritei pela primeira vez (nesse dia havia de gritar ainda mais, por outras razões). Querias a minha carne para ti - é tua, de direito - e foi em defesa do que é teu que marcaste o território da forma como melhor sabes fazer.
Depois, como quem pede desculpa - desculpa de quê? -, voltaste a fazer-me gritar.
Num dia em que me entreguei ao meu lado animal (terei eu outro?), deixei fluir o grito que se produziu na minha garganta, por tua culpa. Por tua causa. Senti humidade na humidade da nossa selva privada, íntima.
Depois, ainda incapaz de reagir à magia de todo o poder que tens sobre mim, senti tudo acalmar.
Olhei para os nossos corpos, feridos de paixão, pela carne.
Envergonhei-me, por momentos.
Então, apercebendo-me da beleza da nossa vida animal - para quê negar um facto? -, embalado pela dor que se apoderava de parte de mim. Beijei-te. Para te mostrar racionalmente aquilo que te havia mostrado, momentos antes, da forma mais humilde e bela que consegui.
Beijei-te para te tentar mostrar a intensidade do que sinto por ti.
Contudo, compreendi, depois, que tudo no beijo não passava de uma demonstração mediata. Mais pura e imediata é a da dor física provocada pelo amor concretizado, sem moderadores nem mediadores.
Assim o espero, pois nesse caso, então, sou certamente muito amado e desejado.

Pintelho

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