Quando eu era (ainda mais) pequenino, parte II
Tal como prometi há horas, volto com o testemunho da última fase das Oficinas de Escrita na Biblioteca Púb(l)ica de Braga.
No último dia de Oficinas, o da despedida, foi-nos proposta mais uma aventura. O seu nome era "Agora Conto Eu". Mais uma vez, após confrontos com proposta de leitura, que reescrevemos à nossa maneira, fomos incentivados a criar um conto, de raíz. A tarefa podia ser individual ou grupal. Lembro que na altura, eu e o meu colega do lado decidimos redigir o conto em conjunto. Só que, logo após o primeiro parágrafo surgiu o desentendimento total. Um queria o deserto, o outro queria o gelo. Foi então que, de um parágrafo comum, surgiram dois belos contos completamente distintos. O conto do Pintelho, saiu assim, à primeira (e única, pois o tempo não chegou sequer para rever a estória):
Viriato, conhecido explorador bracarense, decidiu procurar um lendário país do qual ouvira falar chamado País da Neve.
Após longas caminhadas pelo Norte de Portugal, encontrou um pequeno túnel nos quentes vales transmontanos. Estranhamente, o túnel estava húmido.
Tendo entrado, logo saiu na outra extremidade como por magia. Na outra extremidade também havia humidade, fazia frio e caía muita, muita neve.
Olhou e, minutos depois, viu um ser branco como a cal, com nariz de cenoura. Era um boneco de neve. Este disse:
- Olá estranho. Quem és?
- Chamo-me Viriato e sou explorador.
- És humano! Blaary! Vocês acabaram com o nosso sonho de liberdade. Dois dos últimos bonecos a quem vocês deram coração reuniram-se e fugiram para cá. Ah, mas tu pareces bom. Anda daí!
- Oh, eu nunca pensei que um ser assim alguma vez se pudesse mexer! - Disse Viriato com um misto de pena, culpa e espanto.
- Deixa. Anda ver a nossa terra - Disse o boneco com aquele tom que se usa quando se desculpa alguém. - É verdade. Sou o Gélido e, como sou de gelo, tenho vida eterna.
Durante as horas que se seguiram, Gélido mostrou a Viriato um mundo fantástico. Todos os habitantes eram bonecos-de-neve. O céu estava coberto de aparelhos da ar condicionado que mantinham a temperatura a dois graus negativos. As casas eram iglos e nas escolas o giz era diamante com que se escrevia em paredes de gelo. A comida era constituida por pratos de peixe pescado num buraco gigante que se abria no chão. Frigoríficos não existiam e cozinhava-se em fornos superpotentes.
- Sabes, eu acho tudo isto belíssimo, mas começo a ter saudades. Lá em Braga já não neva há muitos anos e...
- Deixa! - Disse Gélido. Aqui temos toneladas de neve e como as gentes de Braga são simpáticas... Espera até Dezembro. Adeus!
- Adeus!
E partiu. Voltou para Braga e esperou até Dezembro...
Snif... Recordar estes momentos fez-me cir as lágrimas aos olhos. E Pintelho húmido é sinónimo de comichão!
Agora, e após a transcrição dos textos que o autor seleccionou do Pintelho, vem a melhor parte deste post.
É que as Oficinas da Escrita, o projecto, está em livro. Pintelhas e Pintelhos, pelo Campo das Letras Editores, de Virgílio Alberto Vieira, Pintelho, e muitos outros companheiros, "As palavras são como as Cerejas - oficinas de escrita".
Um livro que recomendo, não pelos meus textos (mas também, mas também) mas pelo testemunho que é desta magnífica aventura que hoje, em maré de nostalgia (é do quente, não do calor) me lembrei de lembrar.
Digam lá se o (muito) jovem Pintelho já tinha ou não jeito para contar histórias... Hein?
Pintelho
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No último dia de Oficinas, o da despedida, foi-nos proposta mais uma aventura. O seu nome era "Agora Conto Eu". Mais uma vez, após confrontos com proposta de leitura, que reescrevemos à nossa maneira, fomos incentivados a criar um conto, de raíz. A tarefa podia ser individual ou grupal. Lembro que na altura, eu e o meu colega do lado decidimos redigir o conto em conjunto. Só que, logo após o primeiro parágrafo surgiu o desentendimento total. Um queria o deserto, o outro queria o gelo. Foi então que, de um parágrafo comum, surgiram dois belos contos completamente distintos. O conto do Pintelho, saiu assim, à primeira (e única, pois o tempo não chegou sequer para rever a estória):
Viriato, conhecido explorador bracarense, decidiu procurar um lendário país do qual ouvira falar chamado País da Neve.
Após longas caminhadas pelo Norte de Portugal, encontrou um pequeno túnel nos quentes vales transmontanos. Estranhamente, o túnel estava húmido.
Tendo entrado, logo saiu na outra extremidade como por magia. Na outra extremidade também havia humidade, fazia frio e caía muita, muita neve.
Olhou e, minutos depois, viu um ser branco como a cal, com nariz de cenoura. Era um boneco de neve. Este disse:
- Olá estranho. Quem és?
- Chamo-me Viriato e sou explorador.
- És humano! Blaary! Vocês acabaram com o nosso sonho de liberdade. Dois dos últimos bonecos a quem vocês deram coração reuniram-se e fugiram para cá. Ah, mas tu pareces bom. Anda daí!
- Oh, eu nunca pensei que um ser assim alguma vez se pudesse mexer! - Disse Viriato com um misto de pena, culpa e espanto.
- Deixa. Anda ver a nossa terra - Disse o boneco com aquele tom que se usa quando se desculpa alguém. - É verdade. Sou o Gélido e, como sou de gelo, tenho vida eterna.
Durante as horas que se seguiram, Gélido mostrou a Viriato um mundo fantástico. Todos os habitantes eram bonecos-de-neve. O céu estava coberto de aparelhos da ar condicionado que mantinham a temperatura a dois graus negativos. As casas eram iglos e nas escolas o giz era diamante com que se escrevia em paredes de gelo. A comida era constituida por pratos de peixe pescado num buraco gigante que se abria no chão. Frigoríficos não existiam e cozinhava-se em fornos superpotentes.
- Sabes, eu acho tudo isto belíssimo, mas começo a ter saudades. Lá em Braga já não neva há muitos anos e...
- Deixa! - Disse Gélido. Aqui temos toneladas de neve e como as gentes de Braga são simpáticas... Espera até Dezembro. Adeus!
- Adeus!
E partiu. Voltou para Braga e esperou até Dezembro...
Snif... Recordar estes momentos fez-me cir as lágrimas aos olhos. E Pintelho húmido é sinónimo de comichão!
Agora, e após a transcrição dos textos que o autor seleccionou do Pintelho, vem a melhor parte deste post.
É que as Oficinas da Escrita, o projecto, está em livro. Pintelhas e Pintelhos, pelo Campo das Letras Editores, de Virgílio Alberto Vieira, Pintelho, e muitos outros companheiros, "As palavras são como as Cerejas - oficinas de escrita".
Um livro que recomendo, não pelos meus textos (mas também, mas também) mas pelo testemunho que é desta magnífica aventura que hoje, em maré de nostalgia (é do quente, não do calor) me lembrei de lembrar.
Digam lá se o (muito) jovem Pintelho já tinha ou não jeito para contar histórias... Hein?
Pintelho
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