Um blog de todos nós. Afinal, pintelhos todos temos... Uns mais, outros menos...

quinta-feira, setembro 02, 2004

Eu e a minha guitarra, yeah!

Hoje acordei a pensar que tenho dois amores.
Não, não encarnei a pele do Marco Paulo. Cruzes, credo, canhoto, onde está a madeira para bater três vezes?
Acordei a pensar na Pintelha, que está longe de mim. Sim, porque dois quilómetros nestas andanças do amor são distantes p'ra caraças.
Ao pequeno-almoço, contudo, lembrei-me do meu outro amor, a menina das sete cordas de aço, dos gemidos profundos e entoados com paixão, daquela que me dá o prazer de saber que consigo criar pedaços de arte, incompletos, como todos os pedaços de arte, mas belos, às vezes.
Outras vezes os pedaços de arte são feios.
O espelho que a Universe apresenta não está lá por mero enfeite, para fazer da mulher guitarra mais bonita. Não. A guitarra é o espelho da alma de um guitarrista. O espelho mais perfeito, sem dúvida. No improviso desabafam-se confidências, chora-se, ri-se, revolta-se, agride-se. E a amada guitarra, como uma boa amiga e amante, deixa-se tocar, manipular. Fala por nós. Liberta-nos.
A guitarra é uma boa amante. Uma companheira sem par. Não conhece palavras como traição, ciúme, intriga. Só conhece o nosso coração. Lê-o nas pontas dos nossos dedos. Por isso, este texto, para equilibrar os pratos da balança, e após os desabafos de ontém, é dedicado a ela. Ao espelho da minha alma. À minha alma-gémea, por força das circunstâncias.

Mas só para quebrar esta coisa dos textos românticos, eu explico porque é que me lembrei de homenagear a minha companheira Ibanez. É que, há anos, assisti na escola secundária à actuação de um conjunto de rapazes com instrumentos nas mãos, pretendentes a músicos de garagem, ou a sucessores dos Cebola Mol, que apresentaram uma (perdoem-me todos os Músicos) "música" cujo refrão versava "Eu e a minha guitarra, yeah!", e foi com estas palavras que hoje acordei a ressoar na minha cabeça. Ressoavam tanto que tive que ir a correr relacionar-me pela primeira vez num dia que foi longo, com a minha mais-que-tudo, às nove da manhã.

Mas as minhas palavras não são só palavras bonitas para homenagear um instrumento impar. O facto é que uma das frases mais célebres da história da guitarra, proferida por todos (ou quase, tirando certos apaixonados xoninhas, como eu) os guitarristas, diz mais ou menos assim: "Eu empresto tudo: o carro, a casa, até a minha namorada, mas a minha guitarra, NUNCA!".
É certo. A nossa guitarra tem parte de nós. É parte de nós. Completa-nos. Dá-nos voz. É a nossa voz. Sincera, humilde, bela, afinada.

E após estes devaneios vou ali para o sofã desabafar... E amar...

Pintelho (Eu e a minha guitarra, yeah!)

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