Um blog de todos nós. Afinal, pintelhos todos temos... Uns mais, outros menos...

sábado, janeiro 31, 2004

O homem da padaria ali em baixo

De vez em quando conhecemos cromos assim... O homem tem cerca de 50 anos, bigode farfalhudo bem português, uma pronúncia tipicamente aparolada, barriguinha proeminente que não o deixa esconder as cervejolas bebidas em excesso ... E é dono de uma padaria (move-se por trás dos balcões com um ar bastante atarantado)... Claro que sim, chama-se Tone Quim!
Para começar, o homem tem especial cuidado com a apresentação das vitrinas da padaria. Vejamos: Na vitrina dos sumos, essa vitrina para onde todos os Pintelhos olham quando não há dinheiro para os finos, encontram-se frascos de Compal, de muitas variedades. Com o conteúdo dentro, claro... Só que a bebida apresenta já duas fases... Uma de depósito (metade do frasco), e outra de água (sim, água, a outra metade)... Dá vontade de pedir: "Ó shô Tone Quim, podia-me dar aí um Compal Manga-Laranja?” “Sim senhor, menino… Um quê… Aqui só vendo pão e café… Ó puto anda cá ver o que estes meninos querem que eu já não compreendo o português deles…” (e volta para dentro da cozinha, onde emborca mais uma cerveja, denunciada quando regressa ao balcão pelas gotas e alguma espuma no bigode…).

Quem entra na padaria do Tone Quim, senta-se e espera que o atendam... Três vezes! Da primeira o homem anota o pedido num papel: Dois panikes, três lanches, dois Ucal aquecidos, dois Compal(es) da vitrina... Da segunda vez, volta com as perguntas: O que é um Panike? Desculpe... Queria lanchar o quê? Ucal é uma marca de cerveja? Respondidas as pertinentes questões (que o homem formula repetidas vezes ao longo do dia, sempre que entra algum cliente), o homem vai à mulher (ela sim, compreende as coisas), e pede-lhe para levar para à mesa dos "miúdos com mau aspecto" dois bolos de massa com recheio, três daqueles rectangulares com queijo e fiambre, dois leites com chocolate quente, e dois daqueles que estão por trás do vidro ali ao fundo."
Obviamente que a mulher (é preciso amar muito a ave rara do marido (que ainda por cima se dirige aos clientes com uma quantidade significativa de tiques efeminados) para ainda continuar com ele... Ou ele é rico), mais inteligente que o marido (embora pouco), não compreende os pedidos e volta à mesa para reformular o pedido.
Acabado o lanche, na hora do pagamento, o homem diz "Ò Laurinda, anda cá, que eu não vejo o que eles comeram e beberam... Na mesa só estão os copos vazios e guardanapos...". Vem a mulher, paga-se, e, quando o cliente se vai a dirigir para a porta, depara com a mesa dos velhos que jogam às cartas bebendo cerveja, mesa esta típica das tascas. Só que há algo de extraordinário. Os velhotes foram substituídos por quatro adolescentes, as cartas continuam lá, e as cervejas transformaram-se em sumos…
Jovens perdidos na vida… Viciados em cartas e sumos, que passam o santo dia enfiados dentro da padaria do afável, contudo chéché, Tone Quim.

A esse grande senhor, a minha mais sincera homenagem!

Pintelho

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