Um blog de todos nós. Afinal, pintelhos todos temos... Uns mais, outros menos...

sexta-feira, maio 28, 2004

diário de um pintelho, de uma mata palpitante ou simplesmente guedelhas do sexo

Após ler e ver aqui uma apresentação a este blog, desafiei a senhora melra mais famosa da blogosfera portuguesa a definir o meu cantinho. Por imagens e por palavras, desafio que ela aceitou e ao qual respondeu prontamente.
O texto é um pouco extenso, mas optei por não fazer cortes, apresentando-o sem qualquer alteração.

Segue:

"O Pintelho perguntou-me: "E a mim, como me apresentarias??". Pergunta difícil convenhamos e quando me retirei para a minha singela "biblioteca" emaranhando-me na pintelhice dos meus pensamentos cheguei à "Origem do Mundo" do famoso Gustave Courbet. A imagem estava presente e em pouco tempo encontrei o livro onde a tinha visto pela última vez. Faltava a foto e a escolha do texto para ilustrar o Diário de um Pintelho.
Após a publicação deste post, o qual assumo inteira responsabilidade, este blog cai no descrédito e fica-se pelas ruas da amargura porém espero ilustrar bem o diário do meu amigo e, como ele diz, "Afinal, pintelhos todos temos... Uns mais, outros menos..."



«Turvo sexo de sombra e de desejo
tenta, busca na mata palpitante
a porta do abismo.»

Justo Jorge Padrón, in Mar de la Noche






meu querido Pintelho hoje permites-me que partilhe um pouco do teu diário... vamos lá ver se a minhota que existe em mim está à altura de tão nobre escrita

"O cabelo sempre teve conotações lúbricas. «Onde há pêlo há alegria». O cabelo denota a nossa ancestral animalidade e com ela a perseguição dos nossos instintos mais primários. Como aditamento sedutor, representou para as religiões reveladas uma tentação pecaminosa. A Bíblia está cheia de prevenções sobre mulheres fatais de atraente cabeleira (Dalila, Susana, Betsabé...). Pelo referido motivo, já em 1200 a.C. as leis assírias ordenavam que as mulheres ocultassem o cabelo."

"... os feiticistas a exaltarem-se como o protagonista da Anti-Justine de Restif de la Bretonne, a qual «tinha o velo do seu guarda-jóias tão sedoso que só o tocar-lhe produzia uma irresistível voluptuosidade». Do mesmo modo, coleccionar madeixas do velo púbico constitui um feiticismo específico. N'A Odisseia de umas Calças narra-se a história de um homem que devido a um sortilégio se converteu em calças de uma mulher. Num dos monólogos interiores explica o seu deleite impune perante o velo púbico: «Entre as coxas, os meus dosi debruns acariciavam os caracóis dourados que dão sombra à entrada da gruta voluptuosa».

"Algumas das metáforas referem-se poeticamente à natureza, ao chamarem-lhe pradaria, souto ou musgo. Nesse sentido, Rémy Belleau chamar-lhe-á «montinho de musgos muito suaves atapetados/cortado a meio por um golpe rosado». Em japonês é conhecido como «bosque pequeno» (kusamuia), «erva primaveril» (shu-so) ou «pele de urso» (kuma no kawa). Também se lhe dá um sentido mítico ao defini-lo como tosão, aludindo à lenda do velo de ouro e às suas qualidades mágicas."


porém meu querido diário, um pintelho não fica por aqui, assim sabias que...

"Durante o Renascimento, segundo parece existia nas mulheres o costume estético de fazer tranças com os pêlos da vulva como uma forma de se engalanarem para os enlaces amorosos. Em La tariffa delle puttane di Venegia, revendo a lista de coimas venezianas, comentava-se que uma tal Lucia penteava os pêlos da vulva em «duas tranças de igual comprimento». Eustache Deschamps, num dos seus poemas eróticos, narra a admiração do seu protagonista Pierre Paviot perante a visão da sua mulher ostentando tranças no vêlo púbico. Ela responde-lhe que «esta maneira de o fazer é comum em toda a comarca».

"A mulher, abandonando-se à operação de rapar o velo púbico, tem algo de vítima sacrificial. A sua inerme passividade, a perda do seu velo, a súbita aparição da carne viva da fenda,a extrema nudez, convertem esse sexo numa espécie de animal prestes a ser imolado. Ao mesmo tempo, no rasurado do sexo consuma-se a essência do erotismo: momentos de violenta tensão onde se funde o horror (as ameaçadoras lâminas a deslizarem) com o objecto de desejo (a visão sem entraves do sexo)."

«... foi-me então impossível suportar a impressão de nudez, de mutilação de perda irreparável. Esta última feriu-me muito mais do que a perda da minha virgindade (...) Compreendia que a cada passo que agora desse estaria consciente de tocar, de certa maneira de acariciar, esta nudez do meu sexo com a das minhas próprias coxas, e que esse contacto, essa consciência quase me fariam desfalecer. Só de o imaginar, um pruncípio de espasmo retorceu-me com voluptuosidade o útero e molhei-me interiormente.»


por fim meu querido diário e citando-te a História...

"Um copioso velo, sem dúvida, permite jogos imaginativos na sua manipulação cabeleireira. Janine Aeply, na sua obra Une fille à marier, narra essas possibilidades: «Nem um só pêlo branco! Um velo encrespado! Um bonito sexo, um velo vigoroso! A cabeça de um cãozinho preto com os olhos cobertos pelos caracóis! Sobressai apenas a língua entre a espessura quando boceja ou tem muito calor. Às vezes também é um sinal de reflexão. Um velo suficientemente longo para que eu possa distrair-me a fazer anéis em volta do dedo indicador. Consoante o meu humor, mudo de penteado. Às vezes são três caracóis verticais, bem paralelos; gosto da simetria, é de uma lógica elementar. Quando me sinto travessa, reuno as matas laterais no centro, comprimo-as até essa linha média para que se juntem e se assaltem mutuamente. Então formo um só caracol, como o que adorna a cabeça dos bebés (...) Nos dias festivos ato uma fita na base do anel e aperto bem para estreitar o nó. Tenho a sensação de que alguém me agarra, o que me faz cerrar os lábios quentes, apoiando-se um no outro. Um beijo enclaustra o sexo. Falo com ele, chamo-lhe "minha pretinha" com a cabeça coberta de caracóis. Ri-se, a minha pretinha, abre muito a boca. A boca de uma negra é de um rosa moreno, suave, muito húmido, muito dilatado no seu escuro rosto.»


Alberto Hernando, in "CUNNUS, Repressão e Insubmissões do sexo feminino"



assim, meu querido Pintelho, muito ficou por citar. iria chocar, ainda mais, as personalidades conservadoras que passam por este canto. provavelmente este post deveria ter no título uma bolinha vermelha no entanto, não consigo dissociar a imagem das ervilhas da dos pintelhos. é que, como reza a história por mais que as ponhas de lado sempre engoles sempre duas ou três. Se o desejares, cedo-te o livro do Alberto Hernando para que fiques a saber tudo sobre as "guedelhas do sexo".

abraça-te com amizade
g.
"

Meus senhores e minhas senhoras, pintelhos e pintelhas, pêlos púbicos e pêlos púbicos, assim me apresentam, e isto é cultura! Eu gostei de assim ser apresentado, pelo que, quando criar os "Pintelhos de Ouro" vou certamente distinguir O canto do Melro com o prémio para a melhor apresentação!
E vós, gastastes?

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