Um blog de todos nós. Afinal, pintelhos todos temos... Uns mais, outros menos...

terça-feira, junho 07, 2005

Chegou a casa.



Após um árduo dia de trabalho no mesmo gabinete de sempre, na companhia das mesmas caras de sempre, a reproduzir a mesma rotina de sempre.
Esperou-a.
Não fez o jantar. Nessa noite, preferiria o descanso. O corpo não pedia mais energia.
Pedia apenas para libertar aquela que nele havia em excesso.
“Espero sentir nela a mesma necessidade. Espero que o corpo dela peça auxílio ao meu. Ela que chame por mim.”
Então ela chegou, sabendo que não iria jantar. Ele nunca sabia cozinhar quando chegava a casa antes dela. Ele não servia para nada. Só para lhe dar prazer.
“Então, porque não? Ao menos que me dê aquilo que pode e sabe. E como ele sabe…”
Sentado no sofá, lendo o jornal e ouvindo o rádio bem alto, ele não a sentiu chegar.
Aproveitando a distracção do companheiro, despiu o top que trazia. O calor de o ver foi mais forte que a tentação de o obrigar a batalhar pelo seu umbigo. Com o top, sufocaria. Mas sabia que ele queria os seios. E esses ainda estavam… Protegidos. No corpo, que tremia ao antecipar o momento, ainda restavam uns corsários brancos. “Eu sei que estes me realçam as formas. Ele vai ter que lutar para ter mais que uma silhueta branca de tecido”. Nos pés, um par de chinelos deixavam apreciar as unhas cuidadosamente pintadas de negro.
Aproximou-se, então, por trás, estendendo lenta e sensualmente os braços nus para a camisa do companheiro. “Já que não cozinhas, amanhã vais coser novos botões.”
Instantes depois – teriam sido horas? – ambos jaziam no chão. Sem mais energia. Ela sabia o que nele podia aproveitar, e sabia como o aproveitar. Não sabia – pelo menos assim ele cria – é que ele não cozinhara propositadamente. Preferia alimentar-se dos cinco sentidos. Como entrada, o tacto, a procura pelas fontes de prazer que ela lhe oferecia, não sem uma batalha feroz. Como prato principal, o ouvir dos gemidos da companheira, a visão do seu corpo em contorção, lutando com o orgasmo. A acompanhar, uma húmida bebida de odor forte, proveniente de um luxuriante cálice. Como ele gostava de beber pelos lábios dela, recorrendo apenas à língua como meio para transferir o líquido... E como gostava ele de lamber sempre a última gota que restava na borda, quase, quase a escapar-se ao destino de ser, também ela, consumida pela paixão.
Tal como as crianças, deixara o melhor para a sobremesa. A fusão dos sentidos. Por alguns instantes, todo o mundo se reduziu ao corpo dela, e a algo no seu corpo que se assemelhava a um vulcão em erupção, subindo até à cabeça. Hormonas, diziam os entendidos. “Prazer no seu estado puro!”, pensou ele.
Então, sim, após a farta refeição de ambos, a paz, a harmonia e a rendição. Com a cabeça encostada aos seios que amava, adormeceu. “Venci. São meus.”
Acordada, ela gozava aqueles momentos como únicos. “Tosco. Deste-me tudo que eu quis. Se também tens o que anseias é porque te portas bem, porque me satisfazes. Tudo não passa de reforço. A esse controlo que supões ter… Eu chamo-lhe ilusão.”

Pintelho

|
Web Pages referring to this page
Link to this page and get a link back!