Um blog de todos nós. Afinal, pintelhos todos temos... Uns mais, outros menos...

quinta-feira, setembro 09, 2004

Tese de doutoramento em lojas do chinês, Parte II

Pois é. E será possível que a seguir à primeira parte de uma tese, se siga a segunda? É verdade. Neste caso, segue-se mesmo! Portanto, hoje, no Diário de um Pintelho, escreve-se acerca das lojas do chinês.

Após uma breve visita à secção de decoração, segue-se invariavelmente a electrónica, secção designada nesta tese por “Engenhocas Chinocas”. Esta secção é bastante interessante devido à parafernália de marcas desconhecidas para objectos com exactamente a mesma utilidade.
Pendurados num dos pilares de sustentação da loja encontram-se os acessórios para telemóvel, constituintes de uma excelente oportunidade para azucrinar a cabeça do vendedor. Se entrarmos na loja com a intenção de fazer da vida do olhos-em-bico um inferno, então esta secção é uma das ideais, desde que tenhamos o telemóvel à mão.
Começando pelas capas, de um extremo mau gosto, como quase tudo dentro das lojas, podemos pedir a opinião da chinesinha que acompanha sempre o chinesinho e que, devido à sua altura diminuta e magreza quase anoréctica, é praticamente invisível, acerca de qual capa levar. Se a dos golfinhos a sair da água, com holograma, se a do Sol brilhante com teclado de borracha transparente. Mostrando indecisão durante longos minutos, há que pedir para experimentar o acessório. A chinesinha far-nos-à o favor de abrir a embalagem das capas que, após colocadas no telefone, nos parecerão ainda mais feias, e que, portanto, declinaremos com simpatia, usada para que a paciência não se esgote antes de visitada toda a loja.
À frente do pilar dos telemóveis encontramos as antenas interiores marca “Fu Di”, não tão incomuns por estas lojas quanto isso… E junto às “Fu Di” encontramos provavelmente comandos universais de mil e uma marcas, todos eles em perfeito estado e com um manual de instruções humano, que é como quem diz, se perguntarem ao chinês como se utiliza o comando, é provável que ele abra a caixa, aponte o comando a uma televisão imaginária e, enquanto carrega nos botões, vos explique “Um, seti, pim”. É claro que esta comum expressão chinesa significa algo como “ligas o comando, carregando no botão com o número um, depois carregas no botão set e escreves o código pin da marca do teu televisor, que ficas com o comando a funcionar, compreendes?”.

Saídos da secção “Engenhocas Chinocas”. O ideal, e ultrapassando a secção de roupa, pois nada acrescenta às secções das bancas de feira, é visitar a mais bonita das secções do super-macro-hiper-mega-ultra-mini-mercado chinês: os brinquedos. Esta secção, a que decidi apelidar “clap your hands”, deve ser visitada, como o nome indica, batendo palmas com as mãos. Isto porque oitenta em cada cem brinquedos expostos funcionam com um sensor que responde aos ruídos das mãos a baterem uma na outra.
E esta é a secção em que vocês podem fazer tudo para que o dono morra de ataque cardíaco. É que ter trinta bonecos a fazer barulho ao mesmo tempo, e ainda com o som de palmas a bater, é capaz de ser incomodativo.
Entremos no corredor de brinquedos. Clap, clap! A primeira pirosice a responder é o canário, pendurado numa gaiola, normalmente estático que, ao ouvir as palmas, se agita mecanicamente e pia que nem um desalmado. Segue-se o “martini man” só com roupão, que o abre ao som das palmas, deixando à mostra um vibrante falo, desprovido de Pintelhos nas redondezas (como fiquei irritado), enquanto diz “I am too sexy for you!”. De seguida aparece a senhora que está na casa de banho a falar ao telemóvel e a fazer ruídos orgásmicos enquanto caga (perdão), e o circo está montado quando os dinossauros começam a berrar e as bruxas a rir estridentemente.
É nesta altura que o dono da loja passa pela secção de limpeza e pega numa vassoura marca “Vo To Cu” (esta não vi, ao contrário das “Fu Di”, mas dá um ar mais giro à cena da perseguição) e inicia uma cruzada contra nós. Claro que não mostramos medo. Vamos à secção de beleza, pegamos num lápis preto, levamos ao balcão, e compramos, sob o pretexto de precisarmos dele para um ritual satânico em que vamos sacrificar um chinês.

Ao fim da cruzada pela “Chinatown” do bairro, ainda saímos ao som de um “Obligado, obligado!”, que, supomos, seja mais pelo facto de sairmos da loja do que por termos lá deixado cinquenta cêntimos pelo lápis.

E assim termina a púbica tese de doutoramento em lojas do chinês do Pintelho. Sigam os meus conselhos, e terão uns momentos bem passados na companhia da chinesa minúscula e do chinês paciente mas nem tanto.

Pintelho

|
Web Pages referring to this page
Link to this page and get a link back!