Amor
In and Above Men, From Lowering Skies, Alma Mater, Vampiria.
Foram estas quatro músicas que iniciaram o concerto dos reis do metal nacional, os senhores dos lobos, ontém à noite (era já hoje de madrugada), no Pavilhão Multiusos de Guimarães, no âmbito de uma Recepção ao Caloiro que, de caloiros, teve muito poucos, substituidos maioritariamente por um público mais velho, vestido de negro, com sede do feitiço da lua.
Foi por volta da meia-noite que, no palco secundário, entraram os Stowaways, uma banda alternativa que, ao fim da primeira música, já tinha perdido todo o crédito que eu lhes dera baseado no argumento "Se abrem para os reis, serão bons!". Mentira. Não só a sonoridade era completamente diferente da do grupo de Fernando Ribeiro, como era, também, bastante aborrecida.
Um vocalista que prefere vocalizações sem letra, do tipo "lalala", um guitarrista francamente de baixa qualidade, um baixista quase ausente, e um baterista e teclista que, sendo bons músicos, compôe má música. Aproveitei este primeiro concerto para conviver com amigos que encontrei ou reencontrei por lá. Boas amizades, outras menos boas, mas tudo boa gente.
Foi já depois da uma e quinze da manhã que os Moonspell subiram ao seu palco.
Primeiro os instrumentistas e, para que todo ele fosse realmente O concerto, apenas depois entraram os dois metros de Fernando Ribeiro.
Com os primeiros acordes de In and Above Men, os Moonspell agarraram toda a audiência, e foi ao som dos mesmos acordes que eu a agarrei a Ela. Ela a mim. Por pouco romântico que possa parecer. E comunicámos, daquela nossa maneira especial. Lábios com lábios, falando a linguagem que só nós compreendemos. Aquela do Amor.
E foi assim que passámos as duas primeiras músicas da noite. Mais confortáveis que todos os outros, mais felizes que todos os outros. Eu estava, simultaneamente, frente à minha banda portuguesa favorita (banda favorita a nível mundial de muito boa gente) e nos braços da minha Pintelha. Que fazia eu ali, num concerto onde todos vestiam de negro, feliz, com um sorriso nos lábios? Maluco...
Alma Mater e Vampiria desfizeram o nó, pelo menos em termos práticos. Restou um abraço pelas costas, e duas cabeças a abanar. Uma mais veementemente, outra com mais vergonha, por ser o primeiro headbanging da sua vida.
Alma Mater e Vampiria tocam dentro de nós, por mais esforços que possamos desenvolver para ficar indiferentes.
Alma Mater e Vampiria são hinos. Hinos capazes de levar todos os presentes à loucura.
Alma Mater e Vampiria, para serem bem descritas, numa noite como a de ontém, deviam provavelmente levar com o adjectivo de arrepiantes, mas no sentido mais arrepiante do adjectivo.
Depois, pensando eu que ia ter um tempo de descanso para poder continuar a amar e ser amado, refiz o nó. Beijei-a. Beijou-me, perdendo a vergonha de todos os metaleiros que nos rodeavam.
Magia de pouca dura. De facto, a banda dos mestres portugueses interpretou, quase sem espaço para respirar, Everything Invaded, Nocturna, Mephisto, Full Moons Madness... Uf! Um destilar de sucessos que tornou o concerto ainda mais quente e fantástico. Destaco, nesta sequência, Wolfshade (a Werewolf Masquerade), interpretada com mestria, que foi um dos melhores momentos da quente noite vimaranense.
É numa altura em que o chão já está completamente pegajoso, de tanta cerveja entornada, que os Moonspell saem de palco. Logo são brindados com apelos a Opium, que abre o encore, precedida da introdução do álbum Irreligious. O excerto do Opiário (Álvaro de Campos) que encerra a música, recitado em coro por quase todas as vozes presentes, foi também um dos momentos mais mágicos da noite.
É claro que, como em todos os concertos académicos que se prezem, não há horas, e a banda vai ficando em palco, a tocar e a tocar mais temas. E mais, e mais...
A noite encerra, já pelas três da manhã, com Devilred, a que assisti metade dentro, metade fora do Pavilhão, pois o autocarro partiria, supostamente, às 3, para Braga.
Chegado ao autocarro, findo um excelente concerto de uma excelente banda, amei-te. Amei-te platónicamente. E tu a mim. Vi-o nos teus olhos. Éramos felizes (ainda o somos, tenho a certeza).
Depois do espaço que reservámos a Platão, unimos as mãos, as pernas, os lábios. O autocarro partiu já perto das quatro, hora a que finalmente lotou. Mas os lábios não mais descolaram. Amor, amor, amor... A lua estava encoberta, mas o feitiço lançado naquele Pavilhão tinha restado em nós. Palavras quentes, embrulhadas por amor, eram trocadas, directamente da boca de um para os ouvidos do outro. Os olhos brilhantes, os abraços como nunca me tinhas dado, as palavras repetidas incansavelmente, os movimentos rituais do beijo, repetidos sem exaustão. Chegámos. Separámo-nos.
Ficou uma noite inesquecível em nós. E nos Moonspell. Eu sei que já tocaram para audiências cinquenta vezes maiores, mas aposto que nunca tiveram num público tão heterogéneo (nem todos eram metaleiros, pois muitos estavam lá pela cerveja) um público tão fiel. Grande concerto.
Grande, mas enorme, gigante mesmo, noite!
Pintelho
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Foram estas quatro músicas que iniciaram o concerto dos reis do metal nacional, os senhores dos lobos, ontém à noite (era já hoje de madrugada), no Pavilhão Multiusos de Guimarães, no âmbito de uma Recepção ao Caloiro que, de caloiros, teve muito poucos, substituidos maioritariamente por um público mais velho, vestido de negro, com sede do feitiço da lua.
Foi por volta da meia-noite que, no palco secundário, entraram os Stowaways, uma banda alternativa que, ao fim da primeira música, já tinha perdido todo o crédito que eu lhes dera baseado no argumento "Se abrem para os reis, serão bons!". Mentira. Não só a sonoridade era completamente diferente da do grupo de Fernando Ribeiro, como era, também, bastante aborrecida.
Um vocalista que prefere vocalizações sem letra, do tipo "lalala", um guitarrista francamente de baixa qualidade, um baixista quase ausente, e um baterista e teclista que, sendo bons músicos, compôe má música. Aproveitei este primeiro concerto para conviver com amigos que encontrei ou reencontrei por lá. Boas amizades, outras menos boas, mas tudo boa gente.
Foi já depois da uma e quinze da manhã que os Moonspell subiram ao seu palco.
Primeiro os instrumentistas e, para que todo ele fosse realmente O concerto, apenas depois entraram os dois metros de Fernando Ribeiro.
Com os primeiros acordes de In and Above Men, os Moonspell agarraram toda a audiência, e foi ao som dos mesmos acordes que eu a agarrei a Ela. Ela a mim. Por pouco romântico que possa parecer. E comunicámos, daquela nossa maneira especial. Lábios com lábios, falando a linguagem que só nós compreendemos. Aquela do Amor.
E foi assim que passámos as duas primeiras músicas da noite. Mais confortáveis que todos os outros, mais felizes que todos os outros. Eu estava, simultaneamente, frente à minha banda portuguesa favorita (banda favorita a nível mundial de muito boa gente) e nos braços da minha Pintelha. Que fazia eu ali, num concerto onde todos vestiam de negro, feliz, com um sorriso nos lábios? Maluco...
Alma Mater e Vampiria desfizeram o nó, pelo menos em termos práticos. Restou um abraço pelas costas, e duas cabeças a abanar. Uma mais veementemente, outra com mais vergonha, por ser o primeiro headbanging da sua vida.
Alma Mater e Vampiria tocam dentro de nós, por mais esforços que possamos desenvolver para ficar indiferentes.
Alma Mater e Vampiria são hinos. Hinos capazes de levar todos os presentes à loucura.
Alma Mater e Vampiria, para serem bem descritas, numa noite como a de ontém, deviam provavelmente levar com o adjectivo de arrepiantes, mas no sentido mais arrepiante do adjectivo.
Depois, pensando eu que ia ter um tempo de descanso para poder continuar a amar e ser amado, refiz o nó. Beijei-a. Beijou-me, perdendo a vergonha de todos os metaleiros que nos rodeavam.
Magia de pouca dura. De facto, a banda dos mestres portugueses interpretou, quase sem espaço para respirar, Everything Invaded, Nocturna, Mephisto, Full Moons Madness... Uf! Um destilar de sucessos que tornou o concerto ainda mais quente e fantástico. Destaco, nesta sequência, Wolfshade (a Werewolf Masquerade), interpretada com mestria, que foi um dos melhores momentos da quente noite vimaranense.
É numa altura em que o chão já está completamente pegajoso, de tanta cerveja entornada, que os Moonspell saem de palco. Logo são brindados com apelos a Opium, que abre o encore, precedida da introdução do álbum Irreligious. O excerto do Opiário (Álvaro de Campos) que encerra a música, recitado em coro por quase todas as vozes presentes, foi também um dos momentos mais mágicos da noite.
É claro que, como em todos os concertos académicos que se prezem, não há horas, e a banda vai ficando em palco, a tocar e a tocar mais temas. E mais, e mais...
A noite encerra, já pelas três da manhã, com Devilred, a que assisti metade dentro, metade fora do Pavilhão, pois o autocarro partiria, supostamente, às 3, para Braga.
Chegado ao autocarro, findo um excelente concerto de uma excelente banda, amei-te. Amei-te platónicamente. E tu a mim. Vi-o nos teus olhos. Éramos felizes (ainda o somos, tenho a certeza).
Depois do espaço que reservámos a Platão, unimos as mãos, as pernas, os lábios. O autocarro partiu já perto das quatro, hora a que finalmente lotou. Mas os lábios não mais descolaram. Amor, amor, amor... A lua estava encoberta, mas o feitiço lançado naquele Pavilhão tinha restado em nós. Palavras quentes, embrulhadas por amor, eram trocadas, directamente da boca de um para os ouvidos do outro. Os olhos brilhantes, os abraços como nunca me tinhas dado, as palavras repetidas incansavelmente, os movimentos rituais do beijo, repetidos sem exaustão. Chegámos. Separámo-nos.
Ficou uma noite inesquecível em nós. E nos Moonspell. Eu sei que já tocaram para audiências cinquenta vezes maiores, mas aposto que nunca tiveram num público tão heterogéneo (nem todos eram metaleiros, pois muitos estavam lá pela cerveja) um público tão fiel. Grande concerto.
Grande, mas enorme, gigante mesmo, noite!
Pintelho
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